quarta-feira, 24 de abril de 2013
assim
assim
homenagem a Murilo Mendes
assim vivemos, nas aparas da luz
enquanto as aves exterminam as crias
e as papoilas do campo se consomem em lírica combustão
assim estamos, nesta dor quieta
enquanto a lâmina nos passa de lado a lado, perfurando a fome
assim enterramos o domingo com a sineta fúnebre dos dias
enquanto a peste se insinua pelas portas da cidade
e os rios vão secando em limos vagarosos
prenunciando o fim da musa
assim viajamos nos barcos nocturnos do degredo, em ritos de passagem
Pedro Saborino
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