Fecharam os telhais. Com os prenúncios de Outono, as primeiras chuvas encheram de frémitos o lodaçal negro dos esteiros , e o vento agreste abriu buracos nos trapos dos garotos, num arrepio de águas e de corpos. Também sobre os fornos e engenhos perpassou lufada desoladora, que não deixava o fumo erguer-se para o alto. Que indústria como aquela queria vento é certo; mas sol também. Vento para enxugar e sol para calcinar - sentenciavam os mestres. Mas o sol andava baixo: não calcinava o tijolo, nem as carnes juvenis da malta.
in Esteiros
do esquivo vento outonal te
passará depois o inverno e daí arrancarás as flores
que a terra húmida e premente
te abrirá nas mãos
gretadas de negras unhas e inquieta revolta
virá o sol mais tarde pela manhã
talvez pela tarde quando os teus pés se perderem em ruas de cinza
e uma luz coada breve sem nome
te afagar a cara
naquele recanto onde costumas estar
olhando o rio
à espera
Daniel de Sousa
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.