quinta-feira, 29 de julho de 2010

Escada de jacob


BRANISLAV MIHAJLOVIC
Escada de Jacob (Azul)
Acrílico, chumbo, pedras s/papel - 140x110 cm - 2005




olho em torno e pressinto o que ainda permanece das formas
ou pelo menos alguma luz que por vezes divaga
sobre os meus ombros
de objectos outrora perante mim

não é pois verdadeiramente noite ou abismo
nem nada se esconde
dessa luz azul que revela o espaço entre o vazio e a cor
epítese terrível onde os membros de vários corpos se confundem e
se consomem
num ritual de fogo

agora o passo acima
o olhar silencioso da ave sobre o campo onde o fumo silencia o frémito da luta
e as armas repousam
não há mais gritos e os gemidos apenas prenunciam o espaço da morte

por cima ainda rompo as vestes roxas
e as minhas perguntas libertam-me as palavras
do nada
em metáforas e diversos perfumes
há cantos
e silêncio depois

caminho sobre a rocha
e o peito abre num prenúncio
a libertação do anjo

aqui
conheço o ocre a tinta magnífica a mão aberta
o sentido urgente

no último degrau por fim desvendo o rosto
revelado o tempo
que o deus fabrica
a iluminação a dor final das vísceras
tombadas sobre o pó
das estrelas


Pedro Saborino

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