No lançamento do livro Alma, referencial do seu imaginário de infância em Águeda, Manuel Alegre proferiu o que ele denominou de Explicação de Alma. A qual acaba por ser também a explicação da sua ligação ás origens. Essa terra única e irrepetível ou terra-todas-as-terras. Simultaneamente origem e forma, princípio e termo. Caminho e libertação.
Revejo-me neste texto, na explicação humaníssima do nostoi que nos habita e nos faz reconstruir com por vezes dolorosos fios a nossa identidade.
" (...) Seja como for, eu tinha de escrever este livro. Há livros que se fazem porque se quer. Há outros que se escrevem porque não pode deixar de ser. Foi o que aconteceu com Alma. Era a raiz e a matriz.
Muitas vezes, nas horas do exílio e da solidão, eu agarrava-me à memória, sobrevivia das minhas próprias raízes. Como Ulisses pensando em Ítaca perdida, também eu pensava num rio, numa rua, numa casa.
Não sei se alguém consegue voltar de um longo exílio. Não sei se alguma vez se volta verdadeiramente a casa. Nem sei tão pouco se alguém, a não ser, como na Odisseia, o fiel porqueiro de Ulisses, verdadeiramente nos reconhece quando voltamos. Talvez Alma fosse a única maneira de voltar à minha terra, à minha casa, ou a mim mesmo. Talvez a única forma de finalmente ser reconhecido pelos que já cá não estão, pelos que nunca me conheceram e pelos que só assim poderão saber quem sou. Ou quem não sou. Sabe-se lá."
Excerto da intervenção de Manuel Alegre no lançamento da 1ª edição de "Alma", Águeda, 19 de Janeiro de 1996.
Muitas vezes, nas horas do exílio e da solidão, eu agarrava-me à memória, sobrevivia das minhas próprias raízes. Como Ulisses pensando em Ítaca perdida, também eu pensava num rio, numa rua, numa casa.
Não sei se alguém consegue voltar de um longo exílio. Não sei se alguma vez se volta verdadeiramente a casa. Nem sei tão pouco se alguém, a não ser, como na Odisseia, o fiel porqueiro de Ulisses, verdadeiramente nos reconhece quando voltamos. Talvez Alma fosse a única maneira de voltar à minha terra, à minha casa, ou a mim mesmo. Talvez a única forma de finalmente ser reconhecido pelos que já cá não estão, pelos que nunca me conheceram e pelos que só assim poderão saber quem sou. Ou quem não sou. Sabe-se lá."
Excerto da intervenção de Manuel Alegre no lançamento da 1ª edição de "Alma", Águeda, 19 de Janeiro de 1996.
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