domingo, 19 de julho de 2009

Graça Morais




Já aqui falei de Mestre Gil Teixeira Lopes, natural de Mirandela. Hoje vou evocar outra figura maior das artes plásticas, também de origem transmontana - Graça Morais.
Graça Morais nasceu no Vieiro, concelho de Vila Flor, em 1948. Aí mantém o seu atelier e nele
tem produzido uma boa parte da sua obra.
Paisagem física e humana da Terra Quente, que remete para o "Reino Maravilhoso" de Miguel Torga: "Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um fio de neve (...) terra de homens inteiros, saibrosos, que olham de frente e têm no rosto as mesmas rugas da terra".
Quando a determinada altura voltou às suas origens no Vieiro para reflectir , trabalhar e amadurecer ideias, recusando até alguns projectos, dizendo " Ainda não resolvi tudo em Trás-os-Montes", reafirmava as suas raízes profundas. Ancestrais, como a família do Freixiel. A sua oficina - cabaninha, como lhe chama - adega agora transformada em estúdio, quase primitiva, é o recinto mágico da transfiguração. Mitologia de formas antiquíssimas que Graça Morais redescobre e fixa em cores, gestos, rostos. Por vezes trágicos, por vezes inquiridores, por vezes subtis e inocentes. Um universo único, diálogo com a memória, onde todos os seres adquirem uma surpreendente e por vezes visceral pujança.
Figuras e rostos de hierático dramatismo, que parecem ligar-se à terra- mãe, num processo tão lucidamente descrito por António Alçada Baptista "como um itinerário de purificação do Eu e, de certo modo, da própria história onde nascemos".
A pintura de Graça Morais é reflexiva, apaixonantemente melancólica. O seu percurso estilístico assume por vezes ( sobretudo na fase de 80, do retiro no Vieiro ) uma expressão de inusitada violência em que a mulher- vítima tem um papel desafiadoramente central , com um realismo cru.
Na série "O Sagrado e o Profano" assume um perturbante cruzamento do fantástico com o erotismo, depois aprofundado na série " Erotismo e Morte", para mim o ponto mais alto da obra da pintora.
Percurso riquíssimo, que passa depois por retratos femininos marcados, firmes, matriarcais ("As Escolhidas") e mais recentemente por essa magnífica "Memória da Terra", obra de maturidade absoluta, comovente, rostos de uma velhice sofrida, mas sem revolta , como que aguardando a morte.

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