As vozes tornam-se de súbito mais contidas, sussurros, olhares. O estridor do doente sobrepõe-se, num fundo permanente. O monitor apita. Tudo se dilui, como se as dimensões físicas do quarto se alterassem. Pequenas coisas assumem agora um significado diferente: o pequeno rádio portátil, as chinelas, o relógio de pulso, a fotografia sobre a mesa de cabeceira. As enfermeiras movem-se silenciosamente. Alguém folheia o processo clínico com murmúrios indefiníveis. Ao longe ouve-se a televisão, o desafio de futebol. O doente procura uma posição talvez mais confortável. Olhos cerrados. O corpo abandonado, roxo, exausto. As unhas dos pés compridas. Os movimentos respiratórios abrandam, num esforço irremediável. Um longo suspiro, sob a máscara de oxigénio. O silêncio depois. As pequenas coisas em cima da mesa. Esquecidas.
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