caminhei muitas vezes por esta estrada de aveleiras
ao entardecer na saudação do poente
nasci muitas vezes da sua seiva como a água reflui da matéria ou o canto das aves veloz e inesperado se insinua entre o sangue e a memória
ou o silêncio dos lugares se purifica sobre o rosto
no prenúncio da viagem
lembro-me de como era quente o chão sob os meus pés
e como de dentro
do seu fogo íntimo e inominável
sofria a terra
em seus arados imóveis
estive aí e aí fui chamado por vozes que clamavam os nomes da inocência
estive aí sentado sobre a pedra
e os meus dedos tocavam-na longamente como o ceifeiro toca a superfície mansa da seara
e eu fazia parte desse lugar
das suas palavras que escorriam devagar sobre o musgo
em fios antiquíssimos
estive aí muito perto
Pedro Saborino
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