Falar de Bernardo Santareno é falar daquele que poderá ser considerado o maior dramaturgo português da segunda metade do século XX.
Médico, licenciado pela Faculdade de Medicina de Coimbra em 1950, psiquiatra. Filho de um republicano convicto, que o resgatou ao seminário por " preferir vê-lo morto a ser padre". Entre 1957 e 1958 acompanhou como médico a frota bacalhoeira nas campanhas de pesca do bacalhau, experiência que lhe serviu de base para as peças "O lugre" e "A promessa".
Numa época em que o regime salazarista perseguia toda e qualquer voz discordante, Bernardo Santareno foi uma vítima da repressão e muitas vezes silenciado. A sua notável peça "A promessa" foi retirada de representação por influência do reaccionarismo eclesial de paróquia associado ao obscurantismo do regime.
A sua militância política passou pelo MDP/CDE e pelo Movimento Unitário dos Trabalhadores Intelectuais.
Se a sua matriz estética foi o neo-realismo, a sua genial criatividade evoluiu da afirmação de uma pujante linguagem poética quase naturalista para um registo épico, brechtiano, mas sempre de uma peculiar ênfase, que revive a tragédia grega nos seus momentos de maior universalidade.
De um primeiro ciclo em que se incluem "A promessa", "O bailarino", "A Excomungada","O Lugre" , "O Crime da Aldeia Velha","António Marinheiro", "Édipo de Alfama", "O Duelo", "O Pecado de João Agonia"e "Anunciação", Santareno passou a uma fase de um intervencionismo político em que se destacam "António José da Silva o Judeu", "O Inferno", "A Traição do Padre Martinho" e sobretudo " Português, Escritor, 45 anos de idade", esta já depois do 25 de Abril e que constituiu um marco na literatura dramática portuguesa dos últimos 50 anos.
Das sua últimas quatro peças publicadas em 1979 sob o título "Os Marginais e a Revolução" ressalta a problemática do preconceito face à liberdade de opção, a discriminação e a mentira social, numa perspectiva que desmascara a sociedade portuguesa no seu conservadorismo e na sua hipocrisia.
Muito além do seu tempo, muitas vezes atacado e outras tantas ignorado, Bernardo Santareno é uma figura gigante do panorama intelectual português que aqui evoco, com toda a justiça.
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