terça-feira, 9 de agosto de 2011

tempos











muitas coisas se passaram dentro dos meus versos
alongou-se, talvez demais, o espaço entre as sílabas
que prenunciavam a mudança
e eu estava ali num silêncio compacto e vicioso
que a espera tornava difícil
nada definitivamente nada fluía desse recanto
digamos desse indefinido pedaço de memória
como se fosse uma mera imagem das minhas inquietações
aí então, como uma faca no vazio, se revelaram os diversos tempos
o tempo inicial e informe do princípio
milhões sobre milhões de anos, pó sideral disperso
até ao tempo do meu passo sobre este chão concreto
ou o meu tempo interior sem tempo que apenas e exclusivamente construo
do tempo cronometrado do meu gesto
ao tempo sem tempo nenhum da minha ideia de tempo
do universo que flui dentro de mim e apenas apercebo
passado, presente e futuro são agora construções, como a praça vazia da minha vila se refaz no fontanário que eu vejo ali em baixo
mas podia nem sequer ver
podia apenas imaginar
como as pedras sobrepostas de uma escada
ou o amanhecer por detrás da janela envidraçada


aí então podia descortinar o tempo definitivo
o tempo real da realidade

o tempo total

Pedro Saborino






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