sábado, 4 de maio de 2013

voo



voo

                                                           homenagem a Ramos Rosa




estou aqui, de pé sobre a rocha, muito perto das aves


do seu voo marítimo, no cabo ocidental onde o vento sibila sobre o tojo

e o falcão vigia a passagem dos grandes barcos migrantes



a minha viagem começa aqui, neste bordo suspenso da gávea

por onde rolam as brumas da primavera e os grandes silêncios do oceano se fazem gemido e carne salgada

aqui, onde eu não tenho corpo e estou assim suspenso no olhar

da morte

em declive sobre o nada



e voo, despeço-me de mim, alcanço a luz

toco-a, íntima e solene, queimando as mãos



Pedro Saborino



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