geração do poema
o poema está aí onde tu o inventas
e a tua mão subverte esse tempo indefinível que lateja
na antecipação do prazer
está aí o poema, só teu, em nudez total
depois move-se, sempre inacabado, suplicando na dor do corpo
e rasga-te
no movimento
esse instante que ninguém viu, ou sentiu, ou respirou senão tu
profano aprendiz da agonia da palavra exacta
do rio profundo da matéria
está aí o poema, possuindo-te já e não possuído
tomando-te, o suor incendiado na vigília que entra pela manhã
calcinando-te no fogo interior da sua construção
está aí o poema
entre o sim e não, o amor e a morte, o anjo e a mutilação
o nada e a revelação
está aí, senhor e servo da tua criatura
em permanente mudança
PEDRO SABORINO
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