segunda-feira, 19 de julho de 2021

Homenagem a António Ramos Rosa

geração do poema


o poema está aí onde tu o inventas

e a tua mão subverte esse tempo indefinível que lateja

na antecipação do prazer



está aí o poema, só teu, em nudez total

depois move-se, sempre inacabado, suplicando na dor do corpo

e rasga-te

no movimento

esse instante que ninguém viu, ou sentiu, ou respirou senão tu

profano aprendiz da agonia da palavra exacta

do rio profundo da matéria



está aí o poema, possuindo-te já e não possuído

tomando-te, o suor incendiado na vigília que entra pela manhã

calcinando-te no fogo interior da sua construção

está aí o poema

entre o sim e não, o amor e a morte, o anjo e a mutilação

o nada e a revelação

está aí, senhor e servo da tua criatura

em permanente mudança 

 

PEDRO SABORINO











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