segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Coragem e outras ideias


Perguntam-me às vezes que qualidades deve ter um cirurgião.
Questão difícil.
Primeiro porque um cirurgião intervém de forma invasiva num corpo alheio, ressecando, eliminando, modificando, mutilando, enfim alterando a situação anatómica, se assim quisermos designar um estado que , por se considerar patológico , deva ser alterado.
Esta intrusão é, em rigor, violar um espaço físico no sentido imediato do termo. E o corpo é do ponto de vista ético , inviolável, quer esteja vivo ou morto. A sociedade e por ela a justiça regulam de forma muito estreita a qualidade e o alcance dessas intervenções.
A lesão infligida é legitimada pela necessidade de tratar um mal , ou repor a normalidade numa anomalia , ou minorar um mal maior, ou simplesmente salvar o todo que designamos por vida.
De modo que toda a formação de um cirurgião é baseada na necessidade de intervir, no modo como intervir, nas consequências dessa intervenção e, sobretudo na consideração do todo que é o doente.
Do todo físico, social, familiar e moral.
Daí que o cirurgião tenha ( ou deva ter) uma responsabilidade social acrescida e um padrão de comportamento inquestionável.
Mas e para além disso julgo que há outros requisitos necessários .
Uma vez respondi a uma doente minha que um cirurgião precisa de ser corajoso.
Corajoso físicamente e psicologicamente . Há situações intraoperatórias de grande stress que exigem controlo absoluto de emoções e muitas vezes decisões drásticas com implicação directa na vida ou na qualidade de vida do doente - e essas têm de ser tomadas naquele segundo, não amanhã ou depois.
Coragem, determinação, autocontrolo, decisão, perícia e respeito, empatia e solidariedade pelo ser humano que está nas suas mãos. Sem descriminação de nenhuma espécie.

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