segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A mão da gruta de Chauvet


As fascinantes pinturas rupestres da gruta de Pont d'Arc, no Sul de França, a maior parte das quais com cerca de 30 a 32 000 anos ( mais antigas portanto que as da gruta de Lascaux), incluem para além de um grande número de figuras animais de comovente realismo, a imagem em negativo de uma mão direita. A mão do artista, se entendermos por artista o criador da imagem e, ao mesmo tempo, o indutor do seu significado.
Porquê a mão? Porquê esta linguagem nova? Esta incursão no terreno do sagrado, no recinto ritualizador da hierofania?
A gruta, povoada de representações animais que o quotidiano apresentava ao caçador, fonte da vida e da sobrevivência, era decerto a imagem do seu microcosmo, fora do qual nada mais existiria que a competição selvagem e porventura o caos.
Podemos imaginar um sentido mágico nesta mão - o ponto de encontro do concreto com a estrutura organizadora do pensamento humano, como referia Lévi Strauss. A observação meticulosa da realidade incluia em si mesma o seu princípio e a sua interpretação. A sua significação seria a forma de intervir no real. A mão o seu agente.
A mão que caça, que come, que faz, que mata, que ritualiza enfim - a mão que transcende a função para se tornar no instrumento da divindade. A mão criadora. Que pinta, que inventa, que acaricia, que escreve.
A mão que cura.

Um comentário:

  1. Muito interessante esta imagem e o que escreveu aqui. Meu nome é Rui C. dos Santos e estou fazendo um trabalho académico sobre matemática-arte (math-art) para entregar na FBA-UP e estou pensando incluir esta imagem citando o seu blog (seu nome e o link). Poderei dizer que tive permissão sua para a reproduzir no trabalho? Agradeço sua resposta para sesiqlda@gmail.com

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