sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Taverna argentaria





O quadro é agora muito claro, apesar da patética (convicta?) declaração europeísta de unidade do Dr. Durão Barroso. Mas obviamente a Comissão Europeia já não manda nada. E o Dr. Durão Barroso sabe muito bem disso. Desde há muito tempo.
Estamos pois manifestamente na rua.
E ainda não estamos de todo porque ainda não pagámos o que devemos.
Quando o fizermos, já chupados até aos ossos, com uma economia totalmente ressequida, uma massa de desempregados arrastando a sua penosa revolta, uma classe média destroçada, uma multidão de funcionários públicos exauridos de recursos e de pensionistas à beira da miséria, um mar de falências, um número insustentável de incumprimentos financeiros, uma banca agonizante, uma sangria inestimável de massa cinzenta – então seremos finalmente despejados do clube. Estaremos fora da taverna argentaria.
Quando então nos chutarem do eurão e andarmos a catar as résteas do eurinho, o da via reduzida, o da 2ª velocidade, o da farsa do faz- de-conta–que-somos, o do tasco mediterrânico, talvez possamos compreender como o projecto europeu foi totalmente destruído por políticos sem dimensão. Que a Europa não merecia verdadeiramente neste momento crucial.
Políticos que gerem apenas interesses de agenda, sem qualquer visão estruturante, numa espécie de santa aliança mercantilista franco-germânica que, ao revés da história política e cultural da Europa a caminho da modernidade e do progresso fazem profissão de fé de uma via que a história registará seguramente como o pesadelo do século XXI.
Eles serão responsáveis pela morte da Europa enquanto espaço social, cultural e político no qual a democracia e a liberdade, qual coruja de Atena pousada, seriam o farol no sombrio mar da tirania e da guerra.
Serão assim inexoravelmente julgados.


3 comentários:

  1. Penso exactamente como o meu Amigo, mas não seria capaz de o resumir, ponto por ponto, miséria por miséria, humilhação por humilhação, ferida por ferida, como o Daniel o fez.
    De raiva, as lágrimas cairam-me pela cara abaixo. Nem as limpei.

    Um abraço
    Júlia

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  2. Mas há uma esperança: a nossa dignidade, a nossa cultura, a nossa língua, o nosso trabalho, a nossa inteligência colectiva. Estou certo de que sobreviveremos. Como sempre.

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  3. E, citando o Pessoa, sempre ele:

    "eu, ao menos, sou da estatura da ambição imperfeita, mas da ambição para senhores, não para escravos!"
    in Do ultimatum, Álvaro de Campos, 1917

    Uma terra que teve um Pessoa não pode amesquinhar-se e morrer.

    Abraço amigo
    Daniel

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