quinta-feira, 29 de março de 2012

Para Rafael Albertí

Não é mais fundo o poeta no seu subsolo escuro



encerrado. O seu canto sobe mais profundo



quando, aberto no ar, é de todos os homens.






in Balada para os poetas andaluzes de hoje







de que se fazem o canto e as duras formas dos picos submersos na angústia do anoitecer de que se faz o rosto acerado
aquelas mãos retorcidas que cortam o vento
de que se fazem
os pássaros esmagados
dentro dos sonhos
que já não brilham como estrelas
de que se faz o silêncio do vazio
e flutua
a boca gelada que já nada pede
o fio trémulo que suspende a lua ?

de que se fazem os passos
na chuva o calor sufocante e o odor do laranjal
de que se faz
o recanto da luz
de que se fazem os ódios calcinados a greta da miséria
a tua fome ó vão guerreiro ?

de que se fazem o pranto
o destroço o duro arco vergado o caule
morto
ofício roxo de um céu esquecido ?

de que se fazem?
de que se fazem?





Pedro Saborino

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