sexta-feira, 13 de julho de 2012

O fio invisível

                                                                                                                            ao meu pai



O fio invisível entre os teus dedos rompe o espaço


que revela a manhã.

Os teus dedos fabricam o fato

tecem o velo da memória,

e a obra cresce do nada

como se fosse ela mesma e a vibração da sua imagem

o misterioso rio e a sua nascente,

o rosto indecifrável da vida e o olhar vigilante da morte.



Os teus dedos desvendam o interior do duro ofício,

gesto a gesto,

o alinhavo que antecede a forma,

o ombro altivo, a entretela , o botão, a gola, a dobra,

a costura minuciosa do silêncio.

E as tuas mãos desdobram-se na inquietação dos dedos,

como ramos celebrados das noites

em que dizias os versos todos

da tua vida

dos lugares ali presos nas palavras.

E as tuas mãos desfazem os gestos, rompem-nos por dentro tal como a raiz se insinua no cerne da rocha

e assim nos faz renascer do chão.







4 comentários:

  1. Será um belíssimo e merecido hino ao seu pai e ao seu minucioso labor?
    A mim me pareceu que sim.

    Um grande abraço
    Júlia

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  2. Amigo Daniel:
    Desculpe o meu tolo comentário. Só agora reparei na dedicatória do poema. Sou muito despassarada.

    Júlia

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  3. Júlia : obrigado pelo seu carinho.
    Até sempre.
    Daniel

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  4. Cruzámo-nos certamente noutros tempos, noutras vidas...
    Mas recordo com saudade que para o meu pai,um fato feito pelo seu pai era o seu maior luxo.
    Para mim ler as suas palavras é elevar a minha alma.

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