ao meu pai
O fio invisível entre os teus dedos rompe o espaço
que revela a manhã.
Os teus dedos fabricam o fato
tecem o velo da memória,
e a obra cresce do nada
como se fosse ela mesma e a vibração da sua imagem
o misterioso rio e a sua nascente,
o rosto indecifrável da vida e o olhar vigilante da morte.
Os teus dedos desvendam o interior do duro ofício,
gesto a gesto,
o alinhavo que antecede a forma,
o ombro altivo, a entretela , o botão, a gola, a dobra,
a costura minuciosa do silêncio.
E as tuas mãos desdobram-se na inquietação dos dedos,
como ramos celebrados das noites
em que dizias os versos todos
da tua vida
dos lugares ali presos nas palavras.
E as tuas mãos desfazem os gestos, rompem-nos por dentro tal como a raiz se insinua no cerne da rocha
e assim nos faz renascer do chão.
Será um belíssimo e merecido hino ao seu pai e ao seu minucioso labor?
ResponderExcluirA mim me pareceu que sim.
Um grande abraço
Júlia
Amigo Daniel:
ResponderExcluirDesculpe o meu tolo comentário. Só agora reparei na dedicatória do poema. Sou muito despassarada.
Júlia
Júlia : obrigado pelo seu carinho.
ResponderExcluirAté sempre.
Daniel
Cruzámo-nos certamente noutros tempos, noutras vidas...
ResponderExcluirMas recordo com saudade que para o meu pai,um fato feito pelo seu pai era o seu maior luxo.
Para mim ler as suas palavras é elevar a minha alma.