quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Dignidade
Ela estava ali sentada à minha frente, as mãos de dedos finos e pálidos sobre o regaço, os olhos sem brilho. Fez-se um silêncio. Dois ou três longos minutos de interrogações. De súbito o meu olhar cruzou-se com o dela. Entendi-lhe a força da sua enorme fragilidade. Do seu pequeno corpo decrépito, minado pela doença terminal. Da solidão perante a doença inexorável. Do nada físico exposto ali, pungente, como se fosse a última das dádivas. Ao lado a empregada do lar de idosos em que vivia folheava um dossier de capa verde com meia dúzia de folhas. Notas clínicas sumárias. Monólogos de vazio quotidiano. Tudo se resumia àquele círculo da nossa presença. Que os seus olhos tornavam do tamanho do universo.
Fora, no pequeno televisor da sala de espera da consulta, passavam notícias da bolsa no noticiário das 13.
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