quarta-feira, 6 de maio de 2009

Um mundo quase inabitável


Crise é apenas uma ideia. Cómoda. Não questiona nenhum sistema ideológico, nenhuma religião , não subverte nenhum pensamento político, não é desviante. Cómoda para o poder porque permite instituir a prática hipócrita das almofadas sociais , úteis sobretudo em períodos de escrutínio eleitoral . Cómoda para o sistema financeiro porque lava a imagem de cupidez e lucro sem moral, mantendo as mesmas regras com a vantagem de eliminar uns quantos aprendizes supostamente patetas mas perigosos . Cómoda para o patronato que , após ter exaurido benefícios e lucros das empresas despede em massa e sem réplica com a facilidade com que se desliga um computador . Cómoda para o empregador que busca e usa mão de obra fácil e barata . Cómoda para o arrivismo social que não olha a meios para alcançar os seus fins. Cómoda para a repressão e a intimidação . Cómoda enfim para o discurso irrisório da direita agora armada em consciência moral da sociedade .
Mas crise não significa mudança. Para existir uma mudança teria que mudar-se o curso da história , uma ruptura , um desafio incessante para um mundo novo e um homem novo. Que os políticos da globalização e os sacerdotes da missa de Davos devotos de Hayeck não podem nem desejam protagonizar.
Razão pela qual a crise, esta crise, é uma conjuntura cínica. De domínio da economia sobre a política social. E dos mercados financeiros sobre a economia. E do capital sobre o trabalho.
Porque os nababos das empresas e da finança podem ficar um pouco menos ricos. Mas os trabalhadores ficarão irremediavelmente na miséria. Presos numa jaula que não desejaram, nem foi por eles criada. Numa revolta mal contida.
Enfim um mundo quase inabitável para nós e seguramente inabitável para os nossos filhos e netos.

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