quinta-feira, 3 de maio de 2012

do tempo







do tempo


                                            para o Horácio Espalha Jr. e para Moncorvo



muitas coisas se passaram dentro dos meus versos

alongou-se, talvez demais, o espaço entre as sílabas

o que prenunciava a mudança

e eu estava ali nesse silêncio compacto e viscoso

da espera


nada definitivamente nada fluía de tal recanto

digamos desse indefinido pedaço de memória

como uma mera imagem das minhas inquietações



aí então, tal faca no vazio, se revelaram os diversos tempos

o tempo inicial e informe do princípio

milhões de milhões de anos de poeira sideral

até ao tempo do meu passo sobre este mesmo chão

ou o meu tempo interior, sem tempo

do tempo medido do meu gesto

ao tempo sem tempo nenhum da minha ideia de tempo

do universo que flui de mim

ao segundo infinitesimal da ideia



passado presente e futuro são apenas construções

como o tempo da minha vila se constrói naquele fontanário da praça

que eu vejo

mas podia nem sequer ver

podia apenas imaginar

como as pedras sobrepostas de uma escada

ou o amanhecer através da janela envidraçada deste quarto sobre a serra



aí então a minha memória poderia descobrir o tempo definitivo

o tempo essencial








2 comentários:

  1. Amigo Daniel:

    Passo aqui muitas vezes mas faltam-me as palavras e sobram-me as emoções, as mais variadas.
    Hoje deixo aqui duas palavrinhas que nada dizem a não ser que passei aqui.

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    Respostas
    1. Quanto mais entramos na vida, mais precisamos do calor da origem. E as minhas raízes estão aí.
      Obrigado pela visita. A porta está sempre aberta.
      Daniel

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