terça-feira, 21 de abril de 2009

Para memória futura V



A história da perseguição política ao Prof. Abel Salazar pela ditadura salazarista é demonstrativa da sanha feroz com que o regime perseguia os que se lhe opunham, ou apenas o criticavam , e bem assim da fanática cegueira intelectual que o espartilhava.
O Estado Novo tinha montado de forma pertinaz um aparelho repressivo aparentemente legal de que se destacava o tristemente famoso decreto-lei nº 25317 de 13 de Maio de 1935 , o qual referia logo de início :
"Artº 1º - Os funcionários públicos ou empregados, civis ou militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política , ou não dêem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado, serão aposentados ou reformados, se a isso tiverem direito, ou demitidos em caso contrário.
Artº 2º - Os indivíduos que se encontrarem nas condições do artigo anterior não poderão ser nomeados ou contratados para quaisquer cargos públicos nem admitidos a concurso para provimento neles.
A que se acrescentava o seguinte parágrafo:
§ único : Quando o provimento se fizer mediante concurso de provas públicas, estas não poderão começar sem que ao respectivo Ministro seja dado conhecimento da lista dos candidatos com a antecedência de dez dias".
Seguindo-se outras disposições que punha nas mãos do governo a decisão de arbitrariamente demitir ou afastar quem muito bem entendesse, fazendo tábua rasa do seu mérito , provas prestadas ou valia científica.
Para além de por todas as formas vigiar, impedir, perseguir, expulsar, provocar, prender e torturar quem muito bem entendia.
Assim foi pois expulso da Universidade e da Faculdade de Medicina do Porto o Prof. Abel Salazar.
Foram também expulsos da Universidade o Prof. Aurélio Quintanilha, o Prof. Manuel Rodrigues Lapa, o Prof. Sílvio Lima, o Prof. Norton de Matos do IST e ainda os professores do ensino primário Jaime Carvalhão Duarte , Costa Amaral e Manuel da Silva.
Assim foi expulso em 1946 o Prof. Bento de Jesus Caraça, professor catedrático do ISCEF da Universidade Técnica de Lisboa.
Assim foi demitido o Prof. Mário de Azevedo Gomes.
Em 18 de Junho de 1947, sendo Ministro da Educação Fernando Andrade Pires de Lima, foram expulsos da Universidade os Profs. Ruy Luís Gomes, Mário Silva, Celestino da Costa, Cândido de Oliveira, Pulido Valente, Fernando Fonseca, Adelino da Costa, Cascão de Ansiães, Torre de Assunção, Flávio Resende , Ferreira de Macedo, Peres de Carvalho, Marques da Silva, Zaluar Nunes, Rémy Freire, Crabée Rocha, Dias Amado, Manuel Valadares, Armando Gibert, Lopes Raimundo, Laureano Barros, José Morgado, Morbey Rodrigues, e outros docentes universitários num total de 21.
Todos eles distintos cientistas , investigadores e docentes, muitos deles catedráticos, alguns de Medicina, afastados de forma humilhante ( o Prof. Ruy Luís Gomes por exemplo foi afastado do serviço por telegrama e ulteriormente após um simulacro de processo disciplinar, foi demitido pelo chamado Conselho Permanente de Acção Educativa presidido por Mário de Figueiredo ) por mero delito de opinião e crítica à ditadura.
Assim foi amputada de forma miserável a inteligência nacional .
O que não admira num regime em que a escritora Virgínia de Castro Almeida escrevia no Século " a parte mais linda, mais forte, mais saudável da alma portuguesa reside nesses 75% de analfabetos (...) felizes os que esqueceram as letras e voltaram à enxada" , ou João Ameal " (...) um dos factores principais da criminalidade é a instrução(...)".
Ou ainda António Ferro que dizia " (...) é mais urgente a constituição de vastas elites do que ensinar o povo a ler".

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