segunda-feira, 23 de março de 2009

Cirurgia, Cirurgiões e Escolas de Cirurgia


Um recente trabalho de história da Cirurgia publicado na Revista Portuguesa de Cirurgia ( órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Cirurgia ) deste mês da autoria do distinto Cirurgião Dr. Luiz Damas Mora sobre a vida e obra do Dr. Manoel Constâncio ,chama a atenção para o seu papel fundador na estruturação do ensino da Cirurgia em Portugal.
O Dr. Manoel Alves, Constâncio de nome acrescentado já em adulto, nasceu em 1726 e faleceu em 1817 . Dotado de uma brilhante inteligência e inesgotável curiosidade científica, matriculou-se como praticante de cirurgia no Hospital Real de Todos-os-Santos em Lisboa em 1750. Foi discípulo de José Elias da Fonseca e de Pierre Dufau , este anatomista. Em 1758 prestou provas para cirurgião perante um júri cujo presidente foi o Cirurgião-Mor do Reino, o Dr. António Soares Brandão, tendo sido aprovado. Foi cirurgião militar na Guerra dos Sete Anos e, após a saída de Dufau para França , concorreu e ficou regente da cadeira de Anatomia, continuando todavia sempre a sua prática cirúrgica.
Já no Convento de Sto . Antão Novo, para onde se haviam mudado os serviços do Hospital de Todos-os-Santos após o terramoto de 1755, com muitas vicissitudes, dedicou-se então plenamente ao ensino , quer da Anatomia , quer da Cirurgia.
Aí fez o que se pode designar a primeira Escola de Cirurgia , de elevado prestígio, chegando a patrocinar a ida para centros de nomeada como em Londres de vários cirurgiões: António de Almeida ( considerado o maior Cirurgião português da primeira metade do século XIX e fellow do Royal College of Surgeons ), Francisco José de Paula, Costa Barreto, Lopes de Abreu, Solano Constâncio ( filho mais velho de Manoel Constâncio), iniciando de forma visionária uma geração brilhantíssima.
Quando se jubilou em 1805 e se recolheu à sua quinta de Vale da Louza, deixou um rasto admirável de discípulos e uma obra visível.
Os Hospitais Civis de Lisboa , também de algum modo fruto dessa obra, foram assim e durante muitos anos uma verdadeira Escola de Cirurgiões, talvez a única e pelo menos a única com tal brilhante passado.
Foi igualmente a minha Escola e tenho para com ela uma dívida de gratidão e um profundo reconhecimento.
Nela aprendi não só a arte e a técnica cirúrgicas mas e sobretudo o respeito integral pelos doentes , pelos colegas e pela instituição.
Numa altura em que se procede ao desmantelamento total desse grupo hospitalar , deixo aqui a minha modesta homenagem, como se fora um epitáfio.

Um comentário:

  1. Muito belo artigo. Tenho lido sobre o Dr. Manuel Alves Constâncio e me admirado, cada vez mais, por seu brilhantismo e dedicação à arte médica e ao serviço humanitário. Vénias ao Dr Manuel Constâncio. Vénias ao seu legado!

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